18/10/2011

O Palhaço

Da série meticoacritico.com:

A trupe de Selton Mello


Finalmente assisti o aclamado filme O Palhaço, escrito, dirigido e protagonizado por Selton Mello. E, de cara, faço um alerta: não espere nada demais do longa. Ele é simples. Bem simples. E por isso é encantador!

O roteiro bem construído, o elenco afinado, a direção inspirada, a fotografia belíssima, tudo é favorável ao longa, que entrou na categoria hors concours do Festival do Rio. O filme conta a história de um palhaço em crise de identidade. "Eu faço o povo rir, mas quem é que vai me fazer rir?", questiona Benjamim a certa altura, numa cena de incrível sensibilidade.

Rodado em estilo road movie, o filme diverte desde os primeiros minutos e envolve o espectador por trazer à cena pequenos dramas de um trupe circense, igual à tantas outras que ainda hoje resistem Brasil a fora. A escassez de público, as dificuldades financeiras, as trapaças, o fim que se aproxima (e inevitavelmente uma hora vai chegar), está tudo ali.

Do elenco, não há um grande destaque: Paulo José e Selton Mello emocionam e fazem rir na pele de pai e filho, o elenco de apoio está bem entrosado e as participações especiais são, todas, enriquecedoras - com destaque para Moacyr Franco, que protagoniza o que talvez seja um dos momentos mais divertidos da fita.

E se Selton Mello é apenas correto ao achar o tom certo de seu palhaço, na direção do longa ele se mostra um gigante. E brilha. Este é seu segundo filme como diretor - o primeiro, Feliz Natal, também foi bastante elogiado, mas ainda não vi - e Selton consegue imprimir uma marca bem particular à sua obra.

Quer seja pelas tomadas que captam as reações do respeitável público, pelo ritmo do filme que não cai em um segundo sequer, por alguns ângulos bem criativos ao longo dos 88 minutos ou pela feliz harmonia do elenco. Ou ainda pela belíssima cena final, gravada em um plano-sequência bem interessante, a todo momento sente-se a mão firme e segura do diretor. Como amador que sou, não são em todos os filmes que percebo a interferência do diretor na construção da narrativa. Neste, o Selton-diretor sobra em cena.

E fora o que já ressaltei,  destaca-se também a trilha sonora, que remete ao circo, como não poderia deixar de ser, mas tem boas nuances, transitando bem entre as cenas mais alegres e aqueles mais reflexivas, além de fazer uma justa homenagem à nossa música popular. Aliás, o longa é uma obra de exaltação da cultura popular e faz isso com maestria!

Enfim, um filme imperdível, por sua beleza, singeleza e por trazer a boa comédia de volta às telas do cinema nacional (depois de algumas bombas recentes). Estreia dia 28 de outubro no circuito comercial e se eu fosse você garantiria logo um lugar.


Trailer do filme


Em suma: Faço coro ao grande crítico Pablo Villaça, quando diz que o Brasil já tem seu candidato ao Oscar 2013. Acho que seria indicado tranquilamente ao prêmio de roteiro original. Ainda na briga por fotografia (belíssima), direção (inspirada) e, claro, melhor filme estrangeiro.
Parabéns ao Selton Mello. Filme simples e encantador!


14/10/2011

Tempus Fugit!


Minha vida é um brevíssimo segundo
Minha vida é um só dia que escapa e que me foge
Santa Terezinha do Menino Jesus

Todas as vezes que episódios como o ocorrido na Praça Tiradentes acontecem, me pego pensando em quanto tudo é tão estúpido. A moça acordou cedo, como todos os dias, tomou café, se despediu dos filhos, foi trabalhar. E não voltou mais. O jovem passava pela rua, talvez para ir à banca de jornais, e de repente tudo acabou.

A vida é estúpida. Um breve instante entre duas eternidades, para os crentes. Um breve vácuo entre dois nadas, creem os céticos. Breve, sob qualquer dos pontos de vista.

Por isso o "Carpe Diem", tão exaustivamente repetido que se tornou clichê, segue como uma das expressões mais fortes e verdadeiras que conheço. Viver o dia é, de fato, o grande desafio. Assim, permitam-me uma pequena reflexão - ou conjunto de clichês, como preferirem. Funciona como (auto-) exortação:


Deixemos o orgulho de lado, paremos de nos preocupar com causas insignificantes, rejeitemos a ira, o rancor, todos os sentimentos que destroem, nos livremos das amarras do preconceito, e vamos viver! Viver é também tudo isso, irão questionar. Pondero: compreendo, mas é mais que isso. E por vezes estamos nos perdendo nisso, que, se faz parte, certamente não é a razão de estarmos aqui.
Estamos aqui, e acredito cada vez mais nesta verdade, para sermos (e fazermos) felizes. O resto, já diria a presidenta, são ossos do ofício.


Gonzaguinha dizia que ela era bonita, uma doce ilusão. Einstein, que era muito para ser insignificante. João Guimarães Rosa a definia de um modo um pouco mais sofisticado: ela quer da gente é coragem! Eu sigo insistindo que ela é estúpida: mal começa, termina. Abruptamente começa, abruptamente termina. 

A escolha, como sempre, é nossa: ou vivo intensamente este segundo, ou deixo passar. E ela passa. Levantamos, vamos trabalhar, voltamos para casa. E ela passa. Lemos Foucault, estudamos quinze horas por dia, nos perdemos em nossos mestrados e doutorados. E ela passa. Viramos a noite com o trabalho que levamos para casa, levantamos cedo para ir ao jornaleiro, escolhemos a calçada da direita - a da Praça é perigosa -, passamos em frente àquele bistrô de sempre. E de repente tudo acaba.

E então, vivemos?

03/10/2011

Eu fui!

Quero ser bem sucinto porque o que menos importa aqui é o que vou falar (se estiver com o tempo curto, vá direto aos vídeos, é o melhor do post).

Aos poucos que ainda não sabem, fui ao Rock in Rio. Lembro-me do festival de 2001, dez anos atrás, que acompanhei de casa enquanto via minhas primas saírem de Vitória (ES) para curtirem do festival. Agora foi a minha vez!

E tive o prazer de assistir aqueles que estão sendo considerados dois pontos altos do festival (junto com outros sensacionais, como Metallica, Sepultura, Erasmo, Coldplay, etc.): Janelle Monáe e Stevie Wonder.

Bem, do Stevie todos já esperavam um grande show. Ele, uma entidade da música mundial, só tinha vindo ao Brasil uma única vez, há 16 anos, e é de uma qualidade musical rara. Mas o cara se superou. Pensem em um bom show. Agora multipliquem pelo número de hits que Stevie tem. Somem a quantidade de grammys que já ganhou*. Adicione 100 mil pessoas. Pronto, chegou perto.

Agora, Janelle Monáe, com todo respeito ao Stevie, foi a dona da noite. Arrebatador, assim foi o show da menina de apenas 26 anos que, de ilustre desconhecida, incendiou o público já em seu número inicial: Dance or Die (em tradução literal, Dance ou Morra). Dançamos, claro. E dançamos muito, pulamos, vibramos. Foi incrível, ao final de cada música a Cidade do Rock vinha abaixo, com palmas efusivas, gritos, vivas, uma  catarse coletiva. O show foi irretocável, pois além da voz impecável, com alcance incrível, Janelle dança, atua e até pinta (literalmente!) em cena. 

E o melhor veio no fim da noite: os dois gigantes juntos no palco. Janelle e Stevie Wonder em um dueto que certamente entra para a história do festival. Quinta-feira foi dia de música preta, bebê!

* Stevie Wonder é o maior colecionador de Grammys história, com 25 prêmios.


(a seguir, três vídeos: o primeiro de Janelle; o segundo de Stevie; o terceiro, com os dois juntos. O primeiro vídeo é bem longo, mas não deixe de ver!)

Janelle e o fim apoteótico de seu show

Stevie fez história aqui

E a noite termina perfeita, com os dois no palco