31/10/2010

As Pérolas

Vou ser simples, direto: listo aqui, nas próximas linhas, as dez principais pérolas que coletei nestes últimos três meses de intensa campanha eleitoral no Sul Fluminense.

Sei que se no Brasil inteiro são inúmeras as pérolas. A própria campanha eleitoral nos forneceria uma quantidade imensa de momentos. Mas levantei especificamente as pérolas aqui da região – os candidatos de Volta Redonda, Barra Mansa, Resende, Angra dos Reis, Porto Real, Piraí... também cometeram algumas gafes ao longo do percurso. E, como brasileiro tem a humor injetado na veia, acho que nunca é demais tirar um sarro. Com todo o respeito, viu? Até porque... tem pérola minha também. Das grandes. Acontece nas melhores famílias, com as melhores pessoas. Em geral, não são evitáveis.

Procurei apenas preservar o nome dos políticos (quando possível) e esperei o período eleitoral terminar. Precaução e caldo de galinha nunca é demais...

Enfim, se divirtam!

10.

No fim de uma passeata, os mini-comícios improvisados, em geral em cima de um carro, um banco de praça ou qualquer outra coisa que se ofereça para subir, servem para animar a militância, dar o recado final, chamar a atenção de quem passa na rua.

A décima pérola vem de um desses momentos. Uma candidata de Volta Redonda faz um breve discurso, microfone em punho, e se despede da militância com um pedido bem afinado. Exceto por um detalhe:

"E eu lhe peço: no dia 5 de outubro, vote em mim"

Espera aí, 5 de outubro? O que aconteceu no dia 5 de outubro? Eleição para síndico de prédio? Porque a eleição foi no dia 3.


9.

As matérias dos jornais são pautadas, em grande medida, pela agilidade e presteza das assessorias de imprensa dos candidatos. Só que algum assessor cochilou e enviou uma promessa bem esquisita do seu candidato:

“Se eleito, vai lutar contra a falta de desemprego”

Hein?


8.

De uns tempos pra cá, as propagandas políticas tentam ser cada vez mais pessoais, aproximando o eleitor do candidato. Algumas apostam até numa linguagem bem mais coloquial, com gírias, inclusive. Outras, juntam tudo isso e também apelam para o humor. Querem ser engraçadinhas. Mas acho que teve um candidato de Barra Mansa que exagerou:

“Namora e é casado com Fulana a mais de 14.000 dias, tem três filhas e quase três netos”

Alguém me explica como alguém tem quase três netos? E alguém explica pra ele que a frase ficou bem sem-graça, por favor?


7.

Esse foi um diálogo traçado entre jornalista e candidato. O candidato expõe seu principal plano para quando chegar ao poder. Vejam só:

- Falta emprego para a juventude, vou lutar para trazer emprego.
- Como vai fazer?
- Não sei, chegando lá a gente vê.

Não gente, não é o Tiririca...


6.

Existem coisas que nem todo mundo é obrigado a saber. Mas um candidato sim. Por exemplo, os deputados ESTADUAIS trabalham na ALERJ (Assembléia Legislativa do Rio), que como o nome sugere, fica no RIO DE JANEIRO. Acredita que tinha um candidato a deputado ESTADUAL por Volta Redonda que não sabia disso? Olha o texto de seu flyer:

“Se você deseja mudança, peço que acredite neste projeto de representá-lo na Câmara dos Deputados

Mudança completa, né. Vai mudar até o lugar onde o deputado trabalha...
(A Câmara dos Deputados fica em Brasília, só para lembrar)


5.

Festa! Comemoração! Militância reunida para celebrar a vitória do candidato. No salão o que mais se houve são brados de “Glória a Deus! Glória a Deus! A vitória é sua, Senhor! Glória a Deus!”. De repente, um telefone toca. A mulher atende. A pessoa do outro lado da linha conta que um dos principais adversários políticos do candidato não se elegeu. A mulher, eufórica, larga o telefone e grita, para aumentar a festa no salão:

“Glória a Deus dobrado! O Fulano ficou fora! Glória a Deus dobrado”

Glória dobrado é modalidade nova de louvor? E, já que perguntar não ofende, ela riscou o item ‘não desejar mal a seu irmão’ da sua bíblia?


4.

Sindicalistas se unem por Dilma Roussef. Reunião, em Volta Redonda, traz várias lideranças regionais. Cada uma faz seu discurso, sempre bem inflamado. Lá pelas tantas, um sindicalista está discursando. E, claro, quer terminar bem, com frase de impacto. Então dispara:

“Se ganharmos, venceremos!”

Oi?


3.

Dessa vez, não tem como esconder o político que falou. É parte da graça da piada. Certamente é a frase feita mais... mais incrível que já vi! rs

Resumindo a história, Garotinho ainda era candidato ao Governo do Estado. Reclamava das poucas verbas de sua campanha, disse que ia lutar contra uma campanha muito rica, gigante (a de Cabral). E soltou mais uma de suas metáforas bíblicas. Mas dessa vez foi imbatível:

“Essa é a disputa de Davi contra Golias. E vejam que coisa: Davi era um garotinho”

Sem comentários...


2.

Agora, a pérola deste jornalista que vos escreve. Nem vou tentar me justificar, vou direto ao fato.

Para vocês entenderem: um candidato enfrentou problemas com a Justiça. Foi condenado pelo Tribunal Regional Eleitoral. No dia seguinte à decisão, fizemos uma matéria no estilo “mesmo com a condenação, campanha segue em ritmo normal”.

Acompanharam? Problemas com a Justiça, campanha e minha pérola:

“O candidato disse que a campanha continua e que, inclusive, lidera todas as pesquisas em Angra dos RÉUS”

Não foi proposital. A piada é boa demais para ter sido pensada pela minha cabeça. O fato é que o U está perto do I e o Word tem esse maldito corretor ortográfico que se encarregou do acento. Enfim, foi publicado assim. rs


1.

Ok, falei que só ia entrar pérolas locais. Mas a bolinha de papel é imbatível. Ultrapassa fronteiras. Está na história.

Ao candidato derrotado, o primeiro lugar ao menos na minha lista de pérolas!



20/10/2010

Vida Bandida

"Se eu pudesse eu não seria um problema social..."



Não são excessão, são regra. Frutos de uma sociedade que amou mais ao dinheiro que a eles, já cresceram condenados a virarem marginais.

Estão nas ruas, nas vielas, nas casas. À procura daquilo que o mundo lhes negou: a camisa da Nike, o chinelo Havaianas, o danoninho na geladeira, o carro, o reconhecimento, as mulheres, o respeito de seus pares, a glória, o poder. Afinal, isso não é tudo que se preza hoje? Esta não poderia ser a descrição do conceito de felicidade de um empresário, médico, advogado, jornalista?

O príncipe e o sapo não são outra coisa que não as duas faces de uma mesma moeda, não é isso? Vã a ilusão de que existem seres humanos completamente maus ou bons por natureza. Certas coisas não vêm no código genético.

Nem mocinhos, nem vilões. Homens e mulheres que não tiveram qualquer oportunidade. Não que isso fosse garantia de uma vida menos bandida, mas... quem sabe, afinal?

08/10/2010

O Estádio

Uma vez vi Glória Kalil falando sobre “Etiqueta no Estádio de Futebol”. Achei impróprio. O estádio não tem etiquetas, não tem padrões, não pode ser enquadrado em nenhum livro de regras. Ele é nosso, a-ha, u-hu!

O estádio de futebol talvez seja o único lugar onde ninguém (NINGUÉM) ache estranho abraçar um... estranho. Pelo contrário, ilustres desconhecidos viram quase que amigos íntimos durante 90 minutos: compartilham alegrias, angústias, discutem ideias, discordam, concordam. Se abraçam e algumas vezes, pode acreditar, choram juntos, como duas crianças. Como dois... amigos.

O estádio talvez seja também o único lugar onde xingar não é pecado. É regojizo! Quando a cólera transborda, o palavrão dá conta de acalmar. Se a alegria é explosiva, o palavrão é que melhor expressa o sentimento. O drible genial, o erro grosseiro (do jogador ou do juiz), o gol nos acréscimos... tudo cabe num Puta Que o Pariu – por mais grosseira que a expressão possa parecer transcrita aqui. Lá não é.

No estádio, o lamento é coletivo. E a catarse também. Ele lava a alma, alimenta, dá forças. Sim, tem um quê de sobrenatural.

Na massa, você desaparece. É apenas mais um em dez mil. Gritando, cantando, pulando. No estádio, todos viram apenas um.

E é por isso que eu amo. E é por isso que eu recomendo. É por isso que eu vou. E é por isso, enfim, que eu volto. Na vitória ou na derrota, na saúde ou na doença, por todos os domingos de minha vida...