30/12/2010

As Melhores Coisas do (meu) Ano

Para encerrar o expediente no blog esse ano, dei uma de crítico. rs
Vi listas pra cá, li listas pra lá e resolvi fazer a minha própria lista. É opinião, apenas. Nada técnico ou profissional – até porque não tenho cacife pra isso. Coloquei aqui o que mais gostei de ver/ler/ouvir em 2010.
Elegi um “melhor” em cada categoria. E fica como dica. E aceito dicas também.

Enfim, bom 2011 para todos.
Será o melhor ano de nossas vidas!

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Filme: As melhores coisas do mundo



Ok, Tropa de Elite é uma mega produção e Harry Potter o filme que esperei por muitos meses. Adorei os dois. Tropa pela coragem, HP pela fidelidade. Foram destaques de um ótimo 2010. Mas o filme que mais me surpreendeu este ano foi esse aí em cima.
Sim, é um filmezinho adolescente. Mas é mais que um filmezinho adolescente.
Roteiro dinâmico e bem costurado, atuações seguras, discussões muito maduras. Foi uma bela surpresa. Fui pro cinema pensando em ver um bom filme. Saí com a sensação de ter visto um longa acima da média.
A direção é da ótima Laís Bodanzky, do também ótimo O Bicho de Sete Cabeças, e o filme foi muito bem recebido por público e crítica. Se você não viu, vale a pena, garanto! Mas vá sem a expectativa de ver um filmão. As melhores coisas do mundo é um filme despretensioso, mas muito bem feito. E é isso que o pôs nessa lista.

(Abaixo, algumas críticas bacanas do filme. Tem o trailler em uma delas)

http://www.cinemaemcena.com.br/Ficha_filme.aspx?id_filme=8960&aba=detalhe
http://www.omelete.com.br/cinema/critica-melhores-coisas-do-mundo/
http://www.fredburlenocinema.com/2010/04/critica-as-melhores-coisas-do-mundo.html
http://cinemacomrapadura.com.br/criticas/158605/as-melhores-coisas-do-mundo/


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Livro: O Olho da Rua - Eliane Brum


O livro é de 2008, mas li apenas este ano. Descobri na Flip.
O Olho da Rua é um conjunto de reportagens publicado pela jornalista Eliane Brum nas páginas da revista Época, da editora Globo. Após cada reportagem, um comentário da Eliane. Por todas as qualidades que reúne, o livro poder ser considerado uma obra prima do jornalismo brasileiro.
São dez textos que mergulham em temáticas distintas, com um texto apurado e uma sensibilidade rara no jornalismo contemporâneo, tão sufocado por regras quadradas e padrões que nem sempre primam pela qualidade – em nome da tal da objetividade, às vezes abre-se mão de tanta coisa...
Recomendo a todos. Jornalistas ou não. É um livro raro. Uma obra emocionante. Não a toa, Eliane já ganhou mais de 40 prêmios na carreira.

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CD: Quando o Canto é Reza - Roberta Sá e Trio Madeira Brasil


Este ano descobri tanta coisa boa na música brasileira, ouvi tanta coisa diferente, mas foi fácil chegar a esse primor produzido por Roberta Sá e o Trio Madeira Brasil – e Roque Ferreira, claro – como a melhor coisa que ouvi em 2010.
Arranjos perfeitos. Letras inspiradíssimas. Uma interpretação magnífica (a voz de Roberta está linda como nunca). Aliás, Roberta Sá já deixou de ser “promessa” faz tempo. Quem não conhece, corre pra ouvir essa garota.
Esse CD, o terceiro de sua carreira, canta a Bahia. Em todas as suas nuances, todos os seus personagens, mitos e deuses. É divino!

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Teatro: Cócegas

Esse foi um ano que fui a poucas peças. Pouquíssimas, para ser sincero. Uma pena, adoro teatro. Algumas montagens interessantes, o stand up do Marco Luque engraçadíssimo, mas esse foi o ano de meu encontro com Cócegas.
Já tinha assistido uma vez. E não tinha sido legal. Com meus parafusos, pensei: um dos maiores sucessos da história do teatro brasileiro, aclamado pela crítica, adorado pelo público, e foi tão ruim. Merecia uma segunda vez. E graças a Deus tive a oportunidade de ver de novo.
Heloísa Perissé e Ingrid Guimarães (especialmente) arrebentam. Show de entrosamento e um texto bastante crítico. Engraçado que não tinha notado o quão crítico era o texto da primeira vez que fui. Fiquei impressionado. Adorei cada ironia, cada deboche, cada alfinetada.

OBS.: Senti falta de peças diferentes esse ano em Volta Redonda. Foi um festival de stand up e comédias, apenas.

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Show: Maria Rita / Milton Nascimento

Se meu ano foi fraco no teatro, não posso dizer o mesmo sobre os shows. Graças, principalmente, ao Cultura para Todos assisti a uma dúzia de shows excelentes. Foi a “categoria” mais complicada de chegar a um nome. Afinal, vi Elza Soares, Monobloco, Ana Carolina, Maria Gadú, Arlindo Cruz (!), Ivete Sangalo, D2 – e tenho certeza que esqueci falar de algum (bom) show por aqui...
Foi tão difícil que não consegui chegar a um nome. Foram dois os que me encantaram. E vou dispensar muitas justificativas para minhas escolhas: Maria Rita (artista completa!) e Milton Nascimento (seria pecado ir a um show do Milton e não incluí-lo na lista de melhores).

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TV: Clandestinos, O Sonho Começou - TV Globo


A telinha nossa de cada dia ofereceu bastante coisa bacana este ano, principalmente no segundo semestre. Mas Clandestinos foi, de longe, o melhor. Para mim, ao menos.
O formato, os atores, as histórias (reais), a trilha sonora... tudo ótimo na série da Globo. O episódio do garoto com sua avó é o meu destaque. Mais que especial, emocionante!

22/12/2010

Osso duro de roer

A semana do natal talvez pedisse algo mais leve. Mas o Profissão Repórter da última terça-feira é NECESSÁRIO. Corajoso e um exercício autêntico de jornalismo.

Caco Barcellos é o autor de Rota 66, um livro (maravilhoso) que investiga a atuação da tropa de elite da Polícia Militar de São Paulo, principalmente durante a década de 70. O resultado é estarrecedor e revela um quadro muito preocupante.

No comando do programa, sabia que Caco não ia decepcionar. As reportagens ajudaram a desconstruir uma imagem que Tropa de Elite, proprositada ou despropositadamente, ajudou a consolidar. Caco e sua equipe foram além do que eu supunha ser possível no horário nobre da TV. Desnudaram o rei.

Não podia esperar outra coisa. Afinal, quem escreve um livro como Rota 66, tem uma história a zelar...





03/12/2010

Jornalismo de binóculos

O Alemão tem 400 mil moradores. 600 bandidos. Olhando todas as reportagens (antes da ocupação) parecia o contrário, não?

A população de universitários da Maré é muito superior à de bandidos. Mas as matérias de lá são quase que exclusivamente sobre violência.

Deve ser porque a bala cortando o céu é a única coisa que se vê a partir do asfalto. O barulho do tiro, a única coisa que se ouve.

E o jornalismo brasileiro ainda se faz do asfalto, ainda não experimentou atravessar a “fronteira”. Vê com binóculos – e aí a imagem tende a estar embaçada.

Mas o jornalismo de verdade precisa estar perto das pessoas. É nisso que eu acredito. É pra isso que estou me formando.

22/11/2010

O show é nosso. Ou: o show somos nós!

15 minutos de fama. Esse foi o prognóstico de Andy Wahrol sobre as gerações futuras, ainda na década de 60. A previsão foi prontamente atendida pela juventude deste início de século – só que as aspirações dessa nova geração, de blogueiros e twitteiros, está muito além da fama, simplesmente. Agora eles querem é ser alguém. Mais que mostrar seus talentos, querem mostrar o que pensam, como são.

Aliás, não sei porque uso “eles”. Somos nós! Estamos nos constituindo em uma outra via, alternativa, por onde hoje circulam as informações. Não queremos apenas ler notícias, conhecer as versões dos grandes veículos. Agora, podemos – e queremos – dar a nossa versão, ajudar na construção do conteúdo.

O exemplo máximo dessa nova forma de fazer comunicação é o blog (seja este aqui, em que posto agora, ou o microblog twitter e toda a revolução que ele trouxe). Mas não são apenas as páginas pessoais que estão transformando a comunicação – e o jornalismo, especificamente.

Sites como Overmundo, Observatório de Favelas e até mesmo (por que não?) o Eu, Repórter, do O Globo, demonstram bem essa nova realidade que estou falando. Ainda que com objetivos diferentes, sobretudo no caso do Eu, Repórter, a novidade de cada um desses sítios é a mesma: passamos de leitores passivos a sujeitos ativos na narrativa dos fatos, opiniões, versões.

Também é possível aqui fazer referência a canais como o YouTube ou o MySpace; as redes sociais, como o Facebook; ou ambientes virtuais como o Second Life. Em todos esses espaços, no fundo está o desejo humano de significar (sim, tentei falar como um intelecutal agora, rs).

No livro O Show do Eu, a pesquisadora brasileira Paula Sibilia discorre sobre essa mudança de paradigma na comunicação do século XXI. Vale a pena clicar no site do livro, que dá uma mostra bem bacana de tudo que estou discutindo aqui. Tem o primeiro capítulo da obra para baixar também.

Da pra ter um panorama geral dessa mudança. Mas, sinceramente, acho que nem precisamos de um guia para entender as transformações. Afinal, somos os protagonistas dessa nova era e estamos ligados, plugados, conectados com as novidades deste Admirável Mundo Novo...

08/11/2010

Quem lucra com a falência do Enem?

Cobremos para que erros não mais aconteçam, mas sejamos intransigentes na defesa do Exame

Não, o Enem não está falido. O título tem um pouco de exagero contido nele – e revela também um desejo de um setor econômico do país.

Sim, pois existe quem se beneficie com a perda de credibilidade do exame. Há o desejo (não) oculto do “quanto pior, melhor” em relação ao Enem de um importante segmento da sociedade. Não faço aqui colocações políticas. Não é PSDB, o DEM, o PT ou qualquer sigla partidária. O problema aqui é, sobretudo, da ordem econômica, e não política.

O Novo Enem, que foi aplicado pela segunda vez este ano, nasceu com um objetivo principal: mudar os currículos do ensino médio. Sei, ele é porta de entrada para as universidades, unifica os processos seletivos, amplia as oportunidades, entre outros belos “adjetivos”.

Só que não é apenas isso. Aliás, é muito mais que isso: o Enem, da forma com que está sendo proposto, é uma revolução na própria educação básica brasileira. As escolas, que montam seus currículos orientados para “o que cai no vestibular”, agora deverão dedicar maior atenção ao raciocínio, e não à decoreba; às aplicabilidades práticas das matérias de Ciências Exatas, no lugar da “simples” aplicação de fórmulas; à história da África e dos povos indígenas, e não apenas da Europa; pois, afinal, é isso que está caindo no novo vestibular.

Neste contexto, quem ganha é a educação básica, sobretudo o Ensino Médio, que sempre foi a fase mais tediosa do ciclo escolar. Ganham os estudantes, que não precisarão mais ser adestrados para tentar uma vaga na universidade. Ganham os professores, que poderão ser mais propositivos, valorizar o raciocínio e fugir de formulas prontas, rígidas e inúteis.

E quem perde, então? Quem lucra com o adestramento dos jovens estudantes para enfrentar esse troço chamado vestibular. Porque, para eles, é importante que o ensino básico não sirva para nada na hora do ingresso na universidade, é importante que essa massa de estudantes tenha que frequentar um cursinho, mesmo depois de doze anos de estudo, para aprender a decorar fórmulas e a se livrar das famosas pegadinhas das provas. É importante que essa indústria dos PRÉ-VESTIBULARES continue a funcionar.

O Novo Enem, como vem sendo aplicado e com os objetivos que aspira, simplesmente desmonta essa indústria. Ainda que continuem a existir, os cursinhos perdem força neste contexto. Vale mais o que você desenvolveu na vida estudantil do que as fórmulas que vão enfiar na sua cabeça durante aquele um ano de preparatório (e que você já vai ter esquecido no ano seguinte).

Então, é importante cobrarmos para que erros do Enem sejam minimizados e os estudantes devem, sim, reclamar seus direitos, pois os responsáveis devem explicações à sociedade. Mas precisamos ser firmes na defesa do exame. Cobrar para que erros não aconteçam, mas defender até o fim essa revolução que se propõe.

E, sobretudo, precisamos estar mais atentos para isso: a quem interessa que o Enem fracasse? Quais interesses estão sendo contrariados com essa nova forma de acesso à universidade? O meu, o seu e o das universidades, não – tanto que aderiram em peso.

Tem gente grande, tem uma indústria imensa, incomodada com o Novo Enem. E não, essa não é uma teoria da conspiração.


Aconselho este trecho de um programa da CBN desta segunda-feira. Bem interessante e, em linhas gerais, discute isso que coloquei no texto: http://migre.me/24Sui
Aqui, uma entrevista do Haddad (ministro da Educação) ao O Globo em que bate forte no conceito de "Pré-Vestibular" http://migre.me/24Xk3 e http://migre.me/24Xte
Por fim, esse post do jornalista Paulo Henrique Amorim. Ótimo também: http://migre.me/24XOw

31/10/2010

As Pérolas

Vou ser simples, direto: listo aqui, nas próximas linhas, as dez principais pérolas que coletei nestes últimos três meses de intensa campanha eleitoral no Sul Fluminense.

Sei que se no Brasil inteiro são inúmeras as pérolas. A própria campanha eleitoral nos forneceria uma quantidade imensa de momentos. Mas levantei especificamente as pérolas aqui da região – os candidatos de Volta Redonda, Barra Mansa, Resende, Angra dos Reis, Porto Real, Piraí... também cometeram algumas gafes ao longo do percurso. E, como brasileiro tem a humor injetado na veia, acho que nunca é demais tirar um sarro. Com todo o respeito, viu? Até porque... tem pérola minha também. Das grandes. Acontece nas melhores famílias, com as melhores pessoas. Em geral, não são evitáveis.

Procurei apenas preservar o nome dos políticos (quando possível) e esperei o período eleitoral terminar. Precaução e caldo de galinha nunca é demais...

Enfim, se divirtam!

10.

No fim de uma passeata, os mini-comícios improvisados, em geral em cima de um carro, um banco de praça ou qualquer outra coisa que se ofereça para subir, servem para animar a militância, dar o recado final, chamar a atenção de quem passa na rua.

A décima pérola vem de um desses momentos. Uma candidata de Volta Redonda faz um breve discurso, microfone em punho, e se despede da militância com um pedido bem afinado. Exceto por um detalhe:

"E eu lhe peço: no dia 5 de outubro, vote em mim"

Espera aí, 5 de outubro? O que aconteceu no dia 5 de outubro? Eleição para síndico de prédio? Porque a eleição foi no dia 3.


9.

As matérias dos jornais são pautadas, em grande medida, pela agilidade e presteza das assessorias de imprensa dos candidatos. Só que algum assessor cochilou e enviou uma promessa bem esquisita do seu candidato:

“Se eleito, vai lutar contra a falta de desemprego”

Hein?


8.

De uns tempos pra cá, as propagandas políticas tentam ser cada vez mais pessoais, aproximando o eleitor do candidato. Algumas apostam até numa linguagem bem mais coloquial, com gírias, inclusive. Outras, juntam tudo isso e também apelam para o humor. Querem ser engraçadinhas. Mas acho que teve um candidato de Barra Mansa que exagerou:

“Namora e é casado com Fulana a mais de 14.000 dias, tem três filhas e quase três netos”

Alguém me explica como alguém tem quase três netos? E alguém explica pra ele que a frase ficou bem sem-graça, por favor?


7.

Esse foi um diálogo traçado entre jornalista e candidato. O candidato expõe seu principal plano para quando chegar ao poder. Vejam só:

- Falta emprego para a juventude, vou lutar para trazer emprego.
- Como vai fazer?
- Não sei, chegando lá a gente vê.

Não gente, não é o Tiririca...


6.

Existem coisas que nem todo mundo é obrigado a saber. Mas um candidato sim. Por exemplo, os deputados ESTADUAIS trabalham na ALERJ (Assembléia Legislativa do Rio), que como o nome sugere, fica no RIO DE JANEIRO. Acredita que tinha um candidato a deputado ESTADUAL por Volta Redonda que não sabia disso? Olha o texto de seu flyer:

“Se você deseja mudança, peço que acredite neste projeto de representá-lo na Câmara dos Deputados

Mudança completa, né. Vai mudar até o lugar onde o deputado trabalha...
(A Câmara dos Deputados fica em Brasília, só para lembrar)


5.

Festa! Comemoração! Militância reunida para celebrar a vitória do candidato. No salão o que mais se houve são brados de “Glória a Deus! Glória a Deus! A vitória é sua, Senhor! Glória a Deus!”. De repente, um telefone toca. A mulher atende. A pessoa do outro lado da linha conta que um dos principais adversários políticos do candidato não se elegeu. A mulher, eufórica, larga o telefone e grita, para aumentar a festa no salão:

“Glória a Deus dobrado! O Fulano ficou fora! Glória a Deus dobrado”

Glória dobrado é modalidade nova de louvor? E, já que perguntar não ofende, ela riscou o item ‘não desejar mal a seu irmão’ da sua bíblia?


4.

Sindicalistas se unem por Dilma Roussef. Reunião, em Volta Redonda, traz várias lideranças regionais. Cada uma faz seu discurso, sempre bem inflamado. Lá pelas tantas, um sindicalista está discursando. E, claro, quer terminar bem, com frase de impacto. Então dispara:

“Se ganharmos, venceremos!”

Oi?


3.

Dessa vez, não tem como esconder o político que falou. É parte da graça da piada. Certamente é a frase feita mais... mais incrível que já vi! rs

Resumindo a história, Garotinho ainda era candidato ao Governo do Estado. Reclamava das poucas verbas de sua campanha, disse que ia lutar contra uma campanha muito rica, gigante (a de Cabral). E soltou mais uma de suas metáforas bíblicas. Mas dessa vez foi imbatível:

“Essa é a disputa de Davi contra Golias. E vejam que coisa: Davi era um garotinho”

Sem comentários...


2.

Agora, a pérola deste jornalista que vos escreve. Nem vou tentar me justificar, vou direto ao fato.

Para vocês entenderem: um candidato enfrentou problemas com a Justiça. Foi condenado pelo Tribunal Regional Eleitoral. No dia seguinte à decisão, fizemos uma matéria no estilo “mesmo com a condenação, campanha segue em ritmo normal”.

Acompanharam? Problemas com a Justiça, campanha e minha pérola:

“O candidato disse que a campanha continua e que, inclusive, lidera todas as pesquisas em Angra dos RÉUS”

Não foi proposital. A piada é boa demais para ter sido pensada pela minha cabeça. O fato é que o U está perto do I e o Word tem esse maldito corretor ortográfico que se encarregou do acento. Enfim, foi publicado assim. rs


1.

Ok, falei que só ia entrar pérolas locais. Mas a bolinha de papel é imbatível. Ultrapassa fronteiras. Está na história.

Ao candidato derrotado, o primeiro lugar ao menos na minha lista de pérolas!



20/10/2010

Vida Bandida

"Se eu pudesse eu não seria um problema social..."



Não são excessão, são regra. Frutos de uma sociedade que amou mais ao dinheiro que a eles, já cresceram condenados a virarem marginais.

Estão nas ruas, nas vielas, nas casas. À procura daquilo que o mundo lhes negou: a camisa da Nike, o chinelo Havaianas, o danoninho na geladeira, o carro, o reconhecimento, as mulheres, o respeito de seus pares, a glória, o poder. Afinal, isso não é tudo que se preza hoje? Esta não poderia ser a descrição do conceito de felicidade de um empresário, médico, advogado, jornalista?

O príncipe e o sapo não são outra coisa que não as duas faces de uma mesma moeda, não é isso? Vã a ilusão de que existem seres humanos completamente maus ou bons por natureza. Certas coisas não vêm no código genético.

Nem mocinhos, nem vilões. Homens e mulheres que não tiveram qualquer oportunidade. Não que isso fosse garantia de uma vida menos bandida, mas... quem sabe, afinal?

08/10/2010

O Estádio

Uma vez vi Glória Kalil falando sobre “Etiqueta no Estádio de Futebol”. Achei impróprio. O estádio não tem etiquetas, não tem padrões, não pode ser enquadrado em nenhum livro de regras. Ele é nosso, a-ha, u-hu!

O estádio de futebol talvez seja o único lugar onde ninguém (NINGUÉM) ache estranho abraçar um... estranho. Pelo contrário, ilustres desconhecidos viram quase que amigos íntimos durante 90 minutos: compartilham alegrias, angústias, discutem ideias, discordam, concordam. Se abraçam e algumas vezes, pode acreditar, choram juntos, como duas crianças. Como dois... amigos.

O estádio talvez seja também o único lugar onde xingar não é pecado. É regojizo! Quando a cólera transborda, o palavrão dá conta de acalmar. Se a alegria é explosiva, o palavrão é que melhor expressa o sentimento. O drible genial, o erro grosseiro (do jogador ou do juiz), o gol nos acréscimos... tudo cabe num Puta Que o Pariu – por mais grosseira que a expressão possa parecer transcrita aqui. Lá não é.

No estádio, o lamento é coletivo. E a catarse também. Ele lava a alma, alimenta, dá forças. Sim, tem um quê de sobrenatural.

Na massa, você desaparece. É apenas mais um em dez mil. Gritando, cantando, pulando. No estádio, todos viram apenas um.

E é por isso que eu amo. E é por isso que eu recomendo. É por isso que eu vou. E é por isso, enfim, que eu volto. Na vitória ou na derrota, na saúde ou na doença, por todos os domingos de minha vida...

25/09/2010

Às favas com a Imparcialidade (e a questão da Igreja)

De vez em quando, deixo a máscara da imparcialidade cair. Aliás, luto constantemente contra esse falso ideal. Afinal, não sou robô. Sou jornalista, apenas. E como tal, tenho direito de ter opinião sim.

Mas quero deixar de lado até a sobriedade que deveria acompanhar a opinião de um jornalista (é assim que os Manuais ensinam, ao menos). O que está acontecendo na imprensa brasileira é muito triste e não poderia ser expresso com menos indignação e verdade* do que vou tentar expressar nas próximas linhas.

A vitória de Lula, em 2002, sem dúvida é um dos principais fatos da história recente do país. Simbolicamente, não sei se já houve (ou se ainda haverá) um momento tão forte para a nossa democracia. Mas uma eventual vitória da Dilma representará um passo além – se não historicamente, ao menos em nosso contexto atual.

Sei que sou jovem, mas vivi e li o suficiente para poder questionar: não sei se em algum outro momento forças tão poderosas se moveram de forma tão explícita contra uma candidatura. Não sei se já houve, em algum outro momento, uma tentativa tão descarada de desconstrução de uma figura pública como acontece agora. Há pelo menos um ano, antes portanto da pré-campanha até, as manchetes dos jornais evidenciam o que digo. Um ano de infinitas tentativas de minar uma pessoa, um projeto.

Dilma eleita em 03 de outubro, então, tem muito mais que um valor simbólico. Tem um significado prático: me arrisco a dizer que mais que Lula em 2002, mais que Lula em 2006, a vitória de Dilma em 2010 é, de fato, a vitória do povo contra as elites, da democracia contra uma oligarquia política e midiática que tanto nos sufocou nas últimas décadas.

Já sabia que uma mulher, de esquerda, indicada por uma liderança operária, não seria eleita impunemente. É muito simbolismo, muita quebra de paradigmas, muito revolucionário para a elite mais reacionária deste país engolir. Mas, sinceramente, não esperava que fossem descer tão baixo.

Como estudante de jornalismo, repórter de política, fico muito triste. Mas como brasileiro, me alegro de perceber que o povo, tão humilhado e subjugado ao longo da nossa história, responde à altura e já pensa com sua própria cabeça. Vê com seus próprios olhos e grita para os barões: “Otários! Será que não veem que tamanho esforço é inútil? Agora sou eu que faço as minhas escolhas! Dispenso a ajuda de vocês, ninguém mais pensa por mim...”.

É isso: acho que essa eleição tem um significado a mais. Em 2002 foi iniciado um processo de transformação do povo brasileiro, e este processo se consolida agora. O voto que os milhões de brasileiros darão daqui a quinze dias não será apenas mais um voto. Será um passo firme em direção à liberdade...

A Igreja

Vou abrir aqui um espaço para lamentar uma outra atuação nesta reta final de campanha. Assim como critico alguns movimentos feministas por tratarem o aborto como um monotema, alguns movimentos da Igreja também têm me irritado profundamente ultimamente.

Reduzir o debate eleitoral à questão do aborto é, no mínimo, ignorância – quando não má-fé. Acho que é um dos temas da pauta de debates sim, todos conhecem minha posição muito transparente com relação ao assunto**, mas não dá para considerar este como único ponto relevante de um programa de governo.

Estes dias recebi um folheto amarelo, assinado por alguns bispos e por uma comissão eclesial, que, depois de fazer uma série de ataques ao PT, dizia: “não vote em partidos e candidatos que apoiem o aborto”. Não acreditei.

Então é só isso mesmo que importa? Dane-se se uma educação sucateada! Dane-se que jovens sejam exterminados! Dane-se se querem vender o país! Dane-se se a economia é colocada acima da vida! Dane-se tudo, menos o aborto! É isso mesmo?!

Não creio que a mensagem de Cristo se resumia a isso. Acho que, pela consciência cristã, outros aspectos também merecem relevância: cuidado com os pobres, respeito aos direitos humanos, vida digna à população (e aí inclui saúde ampla, educação de qualidade, reforma agrária...), ética do candidato, entre outros. Mas isso parece não importar. O que importa é o que X acha sobre o aborto. Se é favorável à descriminalização, fogueira nele!

Só para exemplificar a questão, de uma forma um pouco mais palpável: Bush sempre foi contrário ao aborto (e outros temas polêmicos que frequentemente dividem governo e igreja); já Obama é favorável à descriminalização e está fazendo isto nos EUA. Por essa lógica, as mesmas comissões que pedem voto contra o PT, também pediriam voto para Bush – ou Jonh McCain, na época.

Bush matou milhares de pessoas no Iraque? Sim. Matou outras milhares no Afeganistão? Sim. Negou-se a assinar acordos ambientais? Sim. Colaborou para o colapso financeiro que destruiu milhões de empregos em todo o mundo? Sim, claro. Mas, e sempre tem um mas, era contrário ao aborto. Se esse for o único parâmetro, votemos em Bush, fieis. (e, desculpem, a comparação não é absurda. É muito real e próxima do que acontece aqui! É só observarem com atenção).

Enfim, fiquei bastante triste. Além da redução do debate eleitoral, o panfleto amarelo é parcial e omite informações importantes em relação ao tema que deseja tratar – o aborto. Esquece de dizer que o PV também é favorável à descriminalização da prática. Que foi no governo do PSDB que foram criadas duas das três normas técnicas existentes que facilitam o aborto***. Que o PSOL diz que a igreja age com hipocrisia ao tratar do tema. Ou seja, todos têm teto de vidro ao falar do assunto. Por que o ataque tão sistemático a um partido, apenas?

Apesar de triste, a questão não me surpreendeu. O manifesto saiu de uma corrente (ou um movimento) da Igreja que tem como uma das suas figuras mais reverenciadas um professor que chama a ditadura militar de “Revolução de 64”. Em contraste com a atuação sempre tão firme da CNBB em defesa dos pobres e dos excluídos, repudia movimentos sociais e a ameaça que eles representam ao seu conforto patrimonial. O mesmo professor que, em carta xenofóbica ao D. Pedro Casaldáliga, afirmou que o Espírito Santo estava retirando do palco “um a um dos que erraram no caminho” – em referência aos bispos que combateram bravamente o regime ditatorial e acolheram, em nome da igreja, aqueles que sofriam.

O que me conforta é que para cada um Felipe Aquino existem dez Paulo Evaristo Arns, dez Freis Beto, dez Waldir Calheiros... Assim seja!


* Minha verdade, que fique claro!
** Sou contra, aboslutamente contra. Em todas as situações – até nas já garantidas por lei.
*** As normas técnicas editadas pelo Ministério da Saúde de FHC são “Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes” e “Gestação de Alto Risco: Manual Técnico”, ambas regulamentando o aborto nos casos de estupro e gravidez de risco. Em 2004, o governo Lula lançou a “Norma Técnica de Atenção Humanizada ao Abortamento”, que proíbe o hospital de comunicar à polícia o aborto, quando for algum dos dois casos previstos por lei.

05/09/2010

O dia em que a Folha virou piada...

O jornalismo não tem a obrigação de ser imparcial. Tem de ser honesto. A frase é repetida algumas vezes por um dos grandes jornalistas da imprensa brasileira, Ricardo Noblat, mas parece estar meio esquecida nas grandes corporações de mídia do país.

Há pouco tempo, falei aqui da alta carga de jornalismo panfletário assumido por alguns grupos nesta época eleitoral. Não que seja errado o jornal possuir um lado. Pelo contrário, é direito da empresa. Mas é direito do público saber de que lado aquela publicação está.

A Carta Capital, e cito ela porque foi a única que vi fazer, assume em editorial que apoia determinada candidatura. Pode-se discutir se o jornalismo, como formador de opinião, pode abraçar de tal forma determinado candidato. Mas certamente é muito mais honesto com o leitor que, ao ler a revista, sabe exatamente em que posição do campo político ela está situada.

A manchete de domingo (05/09) da Folha de São Paulo, um dos mais respeitados jornais do país, foi lamentável. Jornalismo panfletário da pior espécie. Certamente (como dois e dois são quatro) será utilizado pela propaganda eleitoral de um dos candidatos – e dá até pra suspeitar se não seria este o objetivo quando tal manchete foi produzida.

E a resposta à manchete, quase imediata, veio da forma mais democrática possível: através da internet, do microblog twitter, espaço livre de circulação de ideias. A hashtag #DilmaFactsByFolha, que rapidamente se transformou numa das expressões mais postadas pelos internautas brasileiros (TTBR), foi um indicativo de que a falta de honestidade do veículo teve um preço. E o preço que o jornalismo paga por faltas como essa é a gradual perda da credibilidade – o bem mais precioso de todos.

Repito: Jornalismo não precisa ser imparcial. Tem que ser honesto. Melhor dizer "apoiamos fulano" que simular uma falsa isenção. Jornalismo que tenta ludibriar a opinião pública com imparcialidade inexistente não merece crédito.

Tomara que o movimento ajude o jornalismo brasileiro a repensar alguns pontos. Porque não foi uma resposta exclusiva a uma manchete da Folha, mas sim uma crítica dos que já estão saturados da forma com que a imprensa vem se comportando nos últimos meses – quiçá, nos últimos anos.

Até torço para que os jornalistas (da Folha, da Veja, do Globo, da Carta, do Ig, das academias, de onde quer que seja) aprendam alguma coisa com o episódio. Mas, sinceramente não creio que os jornalistas deem o braço a torcer, revejam os erros e passem a andar por outra trajetória. Afinal, evocando mais uma vez a figura do Noblat, cientista é que pensa que é Deus. Nós, jornalistas, temos certeza.
E não daremos o braço a torcer, mesmo que os fatos mostrem que estamos no caminho errado...


A manchete da Folha

A reação em tempo real

19/08/2010

Valeu, Paraty!

As ruas de Paraty te obrigam a andar devagar. Esse foi o primeiro ensinamento que apreendi da cidade. E talvez o ensinamento mais valioso.
Devagar a gente tem tempo pra olhar pro lado, ver cada detalhe, cada rosto, cada pessoa. O tempo também anda devagar nessas condições.
O Centro Histórico de Paraty tem um encantamento difícil de expressar, fácil de entender por quem já andou por aquelas bandas.
Os cinco dias da Festa Literária Internacional de Paraty foram incríveis. Mais que eu poderia supor.

Trabalhei pra valer, me diverti pra valer. E valeu!


Primeiro dia e logo o encontro com o homem-borboleta, um jovem senhor que depois de viajar por 25 países escolheu as ruas de Paraty para contar suas histórias. Mais à frente, um encontro quase mítico, quase místico: a sereia e o pirata – artistas populares dando o tom da festa.

Segundo dia e uma chuva que ameaçou estragar a festa. Não estragaria, claro. Mas, por precaução, melhor que não caia. E caiu por não mais que alguns minutos logo cedo. Banhou a cidade com ainda mais vida e abriu alas para uma magnífica Isabel Allende passar e tomar conta daquela quinta-feira.

O terceiro dia começou quente, com a nova-velha-infinita discussão sobre o fim dos livros. E eis que a Flip mesmo dá a resposta: não, a leitura não está ameaçada pela tecnologia. Ou, nas palavras do simpaticíssimo Ancelmo Gois, jornalista com J maiúsculo, boa praça que tive a honra de entrevistar: não dá pra imaginar um mundo sem os encantos de uma livraria...

(E aqui, entre o terceiro e o quarto dias, uma noite para ficar guardada para sempre na memória. De tudo um pouco, e no fim apenas a certeza de que somos loucos... Valeu Fernandinha, Bela, Willian e Felipinho!)


Quarto dia traz o estranho sabor de fim de festa. E traz também uma constelação de estrelas, de Shelton a Eagleton, McCann a Crumb (!!!), que certamente não caberiam nestas quatro ou cinco linhas que me propus a escrever. Então me dedico a um apenas, um brasileiríssimo, gigante pela própria natureza – Ferreira Gullar, com seus oitenta anos de história, fez rir, emocionou, tornou a tarde de sábado inesquecível.

E no derradeiro dia, duas mulheres me roubaram o coração. Wendy Guerra, a cubana, faz do impossível, possível e, guerreira, vence a isolamento da Ilha e é reverenciada em todo o mundo – menos em sua terra natal. E, a maior surpresa da minha Flip, Eliane Brum. Impossível de ser descrita com minhas própria palavras, descrevo-a com as suas:

“Não sei muito sobre mim mesma. Quando acho que sei um pouco, eu mesma me desmascaro e escapo de mim. Mas se tenho alguma certeza é a de que sou repórter. Meu ofício é encontrar o que torna a vida possível apesar de tudo, a delicadeza na brutalidade do cotidiano, a vida na morte. Sou alguém que tenta viver duvidando o tempo todo das certezas, das minhas e das alheias. E por isso estou sempre em carne viva”

As ruas de Paraty são poesia pura. Nada práticas, mas intrinsecamente poéticas. Aprendi muito com elas na correria dos dias de festa, nas divertidas noites da Flip.
Trabalhei pra valer, me diverti pra valer. E como valeu...
(Obrigado também Giovana, Cíntia, Caio, Lincoln, Carlos, Rafael... por fazerem a Flip ficar ainda mais gostosa!)



04/08/2010

Flip, aí vou eu!

(lá no fim do texto, os links das minhas matérias sobre a Flip, atualizados diariamente...)


Hoje inicio minha primeira grande cobertura: a Festa Literária Internacional de Paraty, ou simplesmente a Flip.
É interessante o tamanho da ansiedade neste momento. Ansiedade imensa, eu diria. Maior que a ansiedade, só a empolgação por participar de um evento de tamanha importância - mais que para O Mundo, para mim, que adoro literatura.

A verdade é que sempre quis estar na Flip. Sempre acompanhei com bastante interesse os noticiários sobre a festa. Ano passado, inclusive, quase fui...

Agora vou. E acho que não haveria forma melhor de ir, porque sei que, mesmo a trabalho (ou seria justamente por isso?), vou viver com muita intensidade cada uma das mesas.

E espero que, quem puder, apareça por lá no fim de semana. Vai ser delicioso se pudermos nos ver em Paraty. Se não der, vai acompanhando o que eu to fazendo por lá. Dá uma força, vai, rs.


Ah, e claro, os bastidores espero postar por aqui. Espero que tenha muitas histórias boas, daquelas para serem postadas aos poucos, e de darem inveja ao chatíssimo (e nojentíssimo) Diário de Viagem do meu amigo vencedor (haha).

Abraços.
E boa viagem pra nós...
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Primeiro dia - 04/08:
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Segundo dia - 05/08
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Terceiro dia - 06/08
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Quarto dia - 07/08
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Quinto dia - 08/08

28/07/2010

Piegas, brega, cafona. Mas de verdade.

Sei que meu último post sobre a Elza Soares não fez muito sucesso.
Mas não poderia me fingir de indiferente depois de assitir um show dessa... diva!

É doído ver Elza no palco e poltronas vazias no teatro. Fosse em qualquer outro lugar do mundo, estaria no alto de pedestal, intocável, para ser contemplada.

Dói ainda mais ver ainda hoje a marca do preconceito, que a acompanhou por toda uma vida. Elza, que abdicou da sua carreira no auge para salvar a vida do homem que amava, vítima do álcool, persiste sendo rotulado como 'a mulher que desviou Garrinhca do caminho'. Ignorância e preconceito que me indignam.

Ela é aquele tipo de pessoa que tinha tudo para dar errado - mulher, negra, pobre, mãe de família ainda na adolescência. Mas Elza deu certo.


O título de cantora do milênio, concedido pela BBC de Londres, é só um detalhe, uma prova (como se precisasse!) de que, sim, estamos diante de uma entidade da Música Popular Brasileira. Mais: uma artista símbolo da resistência, da coragem, do talento que derruba barreiras. Uma mulher que fez o melhor que pode com o dom que Deus lhe deu.

Quando o show terminou e entrei no camarim, não estava com câmera nem nada para registrar. E nem queria. Na verdade, preferia que nada me distraísse daquele momento. De frente com Elza, me apressei em dizer apenas uma coisa, que minutos antes tinha enviado pela Bia ao celular. Piegas, como qualquer declaração apaixonada. Apaixonada e verdadeira, devo advertir:

"Esse show mudou minha vida"

E a diva, a cantora do milênio, a entidade, a menina de Água Santa, a estrela da minha Mocidade Independente, a bossa negra, a feiticeira do ritmo... fez uma pergunta simples, mas bastante interessada. Apesar de óbvia, confesso que não esperava:

"Por que?"

E eu, depois de tropeçar nas palavras, embargar a voz, encontrei as palavras que melhor respondiam aquela pergunta. Encontrei, em uma frase, uma síntese do que foi a noite. Uma explicação possível para tudo que vivi naqueles 60 minutos:

"Porque alguma coisa que saiu daí, tocou aqui"

13/07/2010

Cantando para não enlouquecer

Trechos da biografia de Elza Soares, eleita a cantora do milênio pela BBC. Terminei de ler hoje, e acho que todo mundo merece conhecer de perto essa mulher:

A maturidade chegou de forma precoce e traumática para Elza. Com apenas 12 anos se casou; aos 13, tornou-se mãe; aos 15, viu seu segundo filho, Edmundo, morrer de fome; aos 19, teve que doar Gerson, que também estava muito doente; aos 20, era mãe de cinco filhos, sendo quatro garotos de uma menina. Aos 21, ficou viúva.
(...)
Quando a dor se tornava insuportável, cantava e cantava, a fim de não enlouquecer.



“Cantando, é como se Elza fizesse uma grande catarse. Se levasse suas dores e sua agonia pessoal para o palco, talvez não suportasse. Então, o próprio organismo, com muita sabedoria, encontrou essa saída pelo lado artístico”.
Roberto Moura, crítico e musicólogo


“Uma grande sambista, extraordinária, brasileira demais para o pessoal da mídia. Intoleravelmente brasileira.”
Sérgio Cabral, jornalista e escritor


“Elza é uma daquelas pessoas que nos deixam um efeito tipo furacão”
Albino Pinheiro, produtor cultural


“Uma conjugação de garganta e útero, que resulta em um som abismante e magnético”
Ricardo Cravo Albin


“Em geral, só é reconhecido no Brasil quem se badala, consegue armar um marketing, penetra na mídia. Elza nunca usou esses recursos. Faz sucesso de verdade, e quem quiser que cumpra seu dever de divulgá-la”
Ricardo Cravo Albin


“Ela se insere no pequeno grupo dos que nasceram para se fazer acompanhar pelas multidões”
Rildo Hora, maestro


“Essa menina, se jogasse bola, seria Garrincha, e Garrincha, se cantasse, seria Elza”

Oswaldo Sargentelli, produtor de shows


“Elza faz o diabo com a voz. É uma artista arrasadora, devia ser chamada Bomba Musical. Jamais alguém fará o que ela fará cantando”
Milton Santos de Almeida, o Miltinho, cantor e pandeirista


“Ninguém lhe pode ser indiferente. A carga de emoção que ela transpõe ao emitir notas vocais excede”
José Carlos Rego, jornalista e antropólogo da dança e do samba


“É um símbolo de luta contra todos os preconceitos. Um exemplo de luta solitária. Sofrida, talentosa, perseverante. Encarna a alma de mulher brasileira”
Haroldo de Andrade, radialista


“Qualquer comparação soa forçada, porque na verdade Elza é única”
Tárik de Souza, crítico


“Um dia, seu valor será devidamente reconhecido”
Dona Zica, viúva de Cartola


“Um fenômeno!”
Billy Blanco





(Neste dia, ela ainda estava em recuperação clínica - havia acabado de sair da UTI, depois de uma complicação pós-cirurgia. Os médicos não aconselhavam a apresentação. Foi e fez simplesmente isso. Mais uma vez, brilhou!)


19/05/2010

Dois pontos

1

A arrogância dos EUA continua me irritando. E agora, mais que antes, está nítido que o que desejam é transformar o Irã num novo Iraque.
Pode parecer exagero, mas a retórica é a mesma: bastar trocar as tais "armas de destruição em massa" da época pela atual "bomba nuclear". E, claro, o vilão também muda de figura: de Hussein para Ahmadinejad.
Será que tem gente que ainda acredita que os americanos estão preocupados MESMO com a ameaça que uma possível bomba nuclear traria para a Paz Mundial? #falasério

(sim, estou viciado em twitter)

2

Absurda a notícia de que Bope matou um homem numa favela do Rio porque confundiu a furadeira que ele segurava com uma arma. O comandante diz que foi um incidente. Não foi.
Isso está longe de ser acaso. Antes, é resultado de uma "política" muito conhecida: atira primeiro e depois pergunta quem é.
Infelizmente os moradores da favelas e periferias cariocas estão acostumadas com esse tipo de tratamento - são bandidos até que se prove o contrário. É triste, revoltante, e o caso deve servir de alerta: quantos mais não estão morrendo pelos mesmos motivos? O pobre é tranformado em suspeito apenas por ser pobre.
E o PM, o que vai acontecer com ele? Responder em liberdade!
Tropa de Elite, osso duro de roer...

06/05/2010

Prece aos Orixás

Li e achei lindo. Esquece o fundamentalismo religioso, vai.
Poesia pura...

*

Tudo o que eu quero
Ter o longevidade das palavras de Oxalá...
Ser livre como o vento de Iansã...
Ser justo como o machado de Xangô...
Ser forte como a espada de Ogum...
Ser firme como o arco e reto como as flechas de Oxossi...
Ser mágico como as forças de Obaluaê...
Ser infinito como a sabedoria de Nana...
Ter a doçura das águas de Oxum...
E as forças dos mares de Yemanjá...
Ter a alegria das gargalhas de Exus...
E a boa esperteza do Malandro Zé Pilintra...
Ser humilde e paciente como meus Preto Velho...
Carregar a lealdade dos amigos Caboclos...
Ter o equilíbrio dos Marujos...
A fé na reza dos Boiadeiros...
E o amor ao mundo dos amigos Ciganos...
E um dia merecer a doçura de meu Erês...

*

Se tiver afim de criar polêmica por causa do post, passa outra hora, por favor...

13/04/2010

Panfletário

Postei no twitter, semanas atrás, uma constatação vergonhosa sobre os meios de comunicação brasileiros, em especial nestas épocas pré-eleitorais: eles deixam o jornalismo sério de lado, e partem para um tipo de jornalismo que a gente só vê nos livros de História da Comunicação - o panfletário.


Aí me vem a Veja (sempre ela) e faz uma capa cobrando das autoridades políticas o resultado das chuvas no Rio. Tá certa. Contudo, quando a chuva foi em São Paulo, era apenas um fenêmeno da natureza e essas mesmas autoridades políticas foram poupadas.
Em resumo, em Sampa a culpa era de São Pedro, no Rio é de Cabral...

Vejam vocês mesmos:


Vergonhoso, não?

02/04/2010

Sexta Santa

"E seu nome era Jesus de Nazaré
Sua fama se espalhou e todos vinham ver
O fenômeno do jovem pescador
Que tinha tanto Amor (...)"

22/03/2010

A velhinha antenada e a velha questão que não cala...

"Esse negócio de 'por amor à arte' não entra na minha cabeça"

Ouvi isso de uma senhora (sim, uma senhora!) enquanto esperava o ônibus para o trabalho, depois de uma breve conversa sobre a escolha da minha profissão.
Ela, minha vizinha há 22 anos, "podia jurar" que eu seria engenheiro. Ou, quem sabe?, seguiria trabalhando na CSN, até me aposentar.
Havia um nítido ar de decepção quando percebeu que eu queria MESMO ser jornalista.

"Mas ganha tão pouco, meu filho"

Foi quase um puxão de orelhas. Argumento que toda profissão tem seus ônus e bônus. Que fiz a escolha certa. Que estou fazendo o que amo (e isso tem um preço). Que estou feliz. Que... Que... Que!
Imagine eu, que tanto brigo com a matemática, a física, e seus derivados, um engenheiro? Ela teve que concordar comigo: não seria bom para o mundo.

"Tudo bem, mas ainda não me conformo. Quem estuda muito deveria ganhar muito"

Meus argumentos morrem. Aceito a indignação e, no silêncio, reflito.
É, vai ver ela está com a razão...

12/02/2010

Carnaval te espera...


Tamborim avisou: "cuidado",
Violão respondeu: "me espera",
Cavaquinho atacou, dobrado,
Quando o apito chegou, já era.

Veio o surdo e bateu, tão forte,
Que a cuíca gemeu, de medo,
E o pandeiro dançou, que sorte,
Fazer samba não é brinquedo.

Todo mês de fevereiro, morena
Carnaval te espera!!!

30/01/2010

Laico, é?

A prefeitura de VR resolveu criar um projeto diferenciado, aos moldes do Cultura para Todos, voltado exclusivamente ao público protestante.
Não é inserir um show gospel no bem sucedido programa (o que seria legítimo!), mas sim criar um programa separado apenas para os apreciadores de música religiosa (protestante, que fique claro).
Achei terrível (não por ser protestante, mas pela exlusividade do projeto - não é "para Todos"). Mas melhor que eu, foi um leitor do Diário.
Jefferson Abreu fez uma série de curtos comentários, em sequencia, no site do jornal. Vejam a lucidez:


Eu quero um projeto católico também!
*
Depois um projeto afro, com músicos ligados à umbanda e ao candmblé!
*
Em uma terceira fase, poderíamos ter um projeto budista, quem sabe? Poderíamos ter shows com mantras, apenas.
*
E assim vamos segregando, dividindo, criando privilégios...
*
Em suma: ridículo o projeto! Estado Laico foi para o buraco...


Massa né? Interessante também a discussão que se criou depois, os comentários que vieram a seguir. Se estiverem interessados, o endereço é esse aqui, ó: http://diariodovale.uol.com.br/noticias/3,16244.html#mais

16/01/2010

Parabéns!

Um ano de blog! Aeeeee...

"Quero, acima de tudo, que esse blog seja um espaço interativo e de produção de conteúdo, produção de idéias. Afinal, uma idéia pode mudar o mundo"

Esse foi meu desejo há exatos 365 dias. Será que consegui? rs

14/01/2010

A pobreza no Brasil vai acabar (é sério!)



Pobreza extrema no país vai desaparecer até 2016

Paola Carvalho
Zulmira Furbino


Aos 14 anos, ela deixou a família nas lavouras de Monte Azul (Norte de Minas) para estudar na capital mineira. Chegou a Belo Horizonte com uma única mala para trabalhar como empregada doméstica. As patroas que teve não permitiram que estudasse. Lindalva Fernandes de Souza Silva não conseguiu realizar seu sonho. Mas aquele era o primeiro de muitos. Casou, comprou uma casa no Novo Riacho, em Contagem (Grande BH), e com o dinheiro da faxina, que ainda faz, pagou a faculdade de fisioterapia e normal superior (ex-magistério) para suas duas filhas, Roberta e Renata, egressas do ensino público. Dessa vez, o sonho de mudar a realidade da família e garantir um futuro melhor para todos foi conquistado. “Tenho muito orgulho da minha trajetória”, disse a trabalhadora, hoje com 54 anos.
A garra de Lindalva é um exemplo que começa a se repetir nos lares brasileiros – e esses vencedores também podem mudar a história do país.

(...)

O economista Ricardo Amorim calculou que, daqui a 12 anos, a desigualdade social do Brasil será menor que a dos Estados Unidos, tendo como base a trajetória de evolução dos últimos 15 anos até 2007. “Estou sendo conservador. Pode ser até antes”, disse. O pesquisador Ipea Sergei Soares concorda e é até mais otimista. Acredita que a inversão pode ocorrer em menos de 10 anos.

(Leia completa em http://www.uai.com.br/htmls/app/noticia173/2010/01/10/noticia_economia,i=143185/POBREZA+EXTREMA+NO+PAIS+VAI+DESAPARECER+ATE+2016.shtml)

Outras matérias sobre a pesquisa do Ipea:

http://ultimosegundo.ig.com.br/economia/2010/01/12/brasil+pode+ter+em+2016+indicadores+sociais+proximos+aos+dos+paises+desenvolvidos+9272213.html

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/01/13/politica,i=166140/SE+BRASIL+MANTIVER+CRESCIMENTO+VAI+PRATICAMENTE+ERRADICAR+A+POBREZA+EXTREMA+EM+2016.shtml

http://www.abril.com.br/noticias/brasil/ipea-brasil-pode-erradicar-pobreza-extrema-2016-caso-mantenha-ritmo-atual-525211.shtml

http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2010/01/12/materia.2010-01-12.4291186298/view

11/01/2010

Por que você gosta da Pitty?

Engraçado, ouvi essa pergunta algumas vezes na última semana. Feita por amigos do serviço, da igreja, da família... Me dispus a pensar no tema e cheguei a uma conclusão - a Pitty faz pensar.
Óbvia a resposta, mas nada mais exato na definição dessa cantora. Bem ou mal, certo ou errado, ela faz pensar, suas músicas não terminam no fim, elas se estendem...
Tem mais: as canções exigem conhecimento prévio. A ignorância pode fazer com que as músicas pareçam mais óbvias do que realmente são. E, pelo contrário, as letras são complexas, cheias de citações, referências... é um exercício árduo traduzir o que cada frase diz.

Em "Fracasso" (com o excelente refrão "O fracasso lhe subiu à cabeça"), por exemplo, ela canta "O maestro bem falou/A ofensa é pessoal". Uma citação à Tom Jobim, que disse certa vez: "No Brasil, fazer sucesso é ofensa pessoal"

Outra música do novo CD chama-se "Desconstruindo Amélia" (!!!) e lá Pitty cita Balzac (!!!), com sua obra "A mulher de Trinta Anos". Em outra, tem uma frase do pensador Marquês de Sade, escondida no refrão ("Eu quero saber me querer, com toda a beleza e abominação, que há em mim").

Mais uma do CD recente: a música "8 ou 80" tem uma referência, ainda que não totalmente explícita, à Dostoiévsky - "Existem nas recordações de todo homem coisas que ele só revela aos amigos. Há outras que não revela mesmo aos amigos, mas apenas a si próprio, e assim mesmo em segredo. Mas também há, finalmente, coisas que o homem tem medo de desvendar até a si próprio..."

Isso sem falar de "Admirável Chip Novo", seu primeiro sucesso, uma clara e inteligente releitura do "Admirável Mundo Novo", de Huxley - sem dúvida o livro mais inteligente que já li e um dos melhores que já foi escrito. Tem também o refrão "O homem é o lobo do homem", roubado do filósofo Tomás Hobbes, e encaixado perfeitamente na música "O Lobo".

E por aí vai... acredito até que em toda música tem uma pérola dessa escondida. O interessante é que, quanto mais escuto, mais coisas descubro. E quanto mais leio outras coisas, outros autores... acabo achando, sem querer, alguma citação que ouvi em determinada música...

Tá longo demais isso aqui já, mais do que palanejei. Mas essa é minha resposta, enfim, àqueles que não entendem esse meu gosto, em particular.
Amigos, a Pitty é phoda* (e não espere ela ir embora para perceber, rs**)!

* Troquei o "f" pelo "ph" apara não decepcionar ainda mais aqueles que já se chocaram com... com... com o que mesmo?

** Ahhh esqueci de citar essa música, "Me Adora". Fantástico também: parece uma canção de amor, mas também pode ser encarada como um recado (desabafo?) irônico à mídia, em especial aos críticos. Saca só:

Você que nem me ouve até o fim
Injustamente julga por prazer
Cuidado quando for falar de mim
E não desonre o meu nome

Perceba que não tem como saber
São só os seus palpites na sua mão
Sou mais do que o seu olho pode ver
Então não desonre o meu nome

Não importa se eu não sou o que você quer
Não é minha culpa a sua projeção
Aceito a apatia, se vier
Mas não desonre o meu nome

03/01/2010

Três Coisas

1. O Brasil precisa conhecer o Espírito Santo!
(lugar lindo, litoral fantástico, estado em franco desenvolvimento...)

2. Avatar é NECESSÁRIO!!
(se você ainda não viu, veja! É uma revolução... principalmente se visto em 3D)

3. Feliz 2010!!!
(vai ser o melhor ano de sua vida, pode apostar)